domingo, 11 de agosto de 2013

Encontros e desencontros da astrologia com a academia - o caso da Academia Celeste


Do ponto de vista histórico, é possível identificar uma série de acontecimentos que ilustram a relação entre a astrologia e a academia. Desde a Academia de Platão até as universidades do século XXI, passando pelas primeiras universidades medievais e pelo estabelecimento das academias de ciências e das instituições de pesquisa modernas, podemos entender essa relação como pouco definida em alguns casos, inexistente em outros, e ainda bastante estreita em certos momentos. Isso para não entrar na discussão sobre a relação entre astronomia e astrologia, já tratada em outros posts (clique aqui).

Antes de continuar, só um esclarecimento sobre o sentido que aqui será adotado para o termo "academia". Apesar de hoje ser mais ou menos clara uma acepção de academia como instituição do saber oficial, onde se formam especialistas em diversos domínios, além de se produzirem ciência e tecnologia, não podemos dizer que, por exemplo, a Academia de Platão tivesse o mesmo sentido. Academia e universidade hoje são palavras sinônimas. Ao lado do caráter de ensino e pesquisa, há que se ressaltar também o caráter político do mundo acadêmico-científico. Há um certo consenso acerca das ideias de excelência, elite intelectual e lugar da verdade que se vinculam às comunidades científicas. Ser ciência é requisito para um saber ser considerado legítimo, para ter prestígio social e ser contemplado com financiamento que, ao fim e ao cabo, é o que vai definir a sobrevivência de qualquer tipo de pesquisa. Afinal, para fazer pesquisa, além de recursos materiais, é preciso captar e formar continuamente gente interessada e motivada em seguir a vida acadêmica, e isso não é trivial, sobretudo para uma área de conhecimento que vive sob suspeita.

Nesse sentido, depois de dois séculos à margem da vida acadêmica, a astrologia parece estar buscando uma aproximação. Nesse movimento há todo tipo de interesses e demandas, mas, independentemente disso, esse diálogo nos parece inadiável, tendo em vista a "avalanche astrológica" do último século: testes empíricos, programas de graduação e pós-graduação em astrologia, teses defendidas nos mais diversos departamentos universitários, artigos publicados em periódicos de vários campos do conhecimento. Há que se mencionar também a via popular da astrologia, em muito responsável pela sua sobrevivência, cujos sinais encontramos na literatura multifacetada de almanaques astrológicos, colunas de horóscopo em jornais, além de livros e revistas de divulgação da astrologia, às vezes também mesclada com outros saberes, normalmente rotulados de alternativos, esotéricos, autoajuda e afins.

É nesse contexto que, no inverno carioca de 2004, ao longo de um produtivo congresso promovido pelo Sinarj, um grupo de astrólogos oriundos das mais diversas formações acadêmicas de vários cantos do país reuniu-se no que foi carinhosamente denominado de Academia Celeste. Desde então, outros astrólogos aderiram a esse grupo, que se encontra pessoalmente de vez em quando e mantém uma lista de discussão no yahoo, além deste blog. Um dos membros costuma dizer que saber da existência um do outro já é uma grande alegria.

A Academia Celeste se interessa por esse diálogo entre a astrologia e a academia, o que não significa cientificizar a astrologia ou astrologizar a academia. Trata-se de um grupo heterogêneo que se situa nas bordas, numa região fronteiriça de troca riquíssima, mas também de confronto. É aí que buscamos nossos pares, de maneira a dar consistência a esse percurso comum. É importante ressaltar que este não é necessariamente o melhor caminho para a astrologia, é apenas o nosso caminho, e todos que se interessarem por ele serão bem-vindos.

Basicamente, o que se propõe aqui é pesquisa interdisciplinar (ou seria melhor antidisciplinar?), além de uma profunda reflexão crítica e sem preconceitos sobre a relação entre astrologia, ciência e sociedade. Isso implica algumas ações: 1) pesquisar a astrologia sob as mais diversas perspectivas; 2) traduzir, publicar, participar de eventos, enfim, fazer circular o conhecimento; e 3) promover o diálogo com a academia.


Um comentário:

Odete disse...

Eu, aqui, acompanho com interesse todos esses estudos e discussões sobre esse assunto tão polêmico.