sábado, 23 de maio de 2009

Para quem quiser saber sobre a minha tese

por Cristina de Amorim Machado

Estou no último ano do doutorado em Letras na PUC-Rio, na área de Estudos da Tradução. Minha tese é sobre a história da tradução do Tetrabiblos, a obra astrológica de Ptolomeu. Meu entusiasmo é grande, pois consegui reunir num mesmo projeto as minhas três áreas de interesse: tradução, astrologia e história da ciência. Como fiz bacharelado (UERJ) e mestrado (PUC-Rio) em Filosofia, mais especificamente na área de filosofia e história da ciência, tive a oportunidade de estudar a discussão sobre a cientificidade da astrologia, sobre a qual escrevi minha dissertação de mestrado, que se encontra aqui. Agora a minha ênfase é historiográfica, tomando o livro como objeto científico, e seguindo os rastros da transmissão do Tetrabiblos nas mais diversas línguas e culturas ao longo desses quase dois mil anos que nos separam da escrita de Ptolomeu. Obra e autor aqui são constructos, provisórios e instáveis por definição, e justamente por isso instigantes.


Esta é a capa da edição crítica de F. E. Robbins (1940)

O Tetrabiblos fazia parte da literatura científica da Alexandria do século II, que se deslocou para Bizâncio, Índia e Pérsia, até chegar a Bagdá nos séculos VII e VIII, onde se produziu, para o árabe, a sua primeira tradução conhecida. De lá, com a expansão do mundo árabe-muçulmano para o Ocidente, essa literatura, já arabizada por um processo de reescritas de aproximadamente três séculos, também se desloca, aportando como parte da cultura islâmica na Península Ibérica. O Islã, a língua árabe e os dialetos moçárabes reinaram exuberantes na Península do século VIII ao XII, quando, a partir dos movimentos de Reconquista, os exércitos cristãos começaram a reagir, impondo não só sua religião, mas também a língua da Igreja, o latim, que, nesse momento, já convivia com suas “filhas” locais, como o galego-português e o castelhano. Entre os séculos XII e XIII, Portugal se estabelece como reino, encerrando a sua Reconquista, e a Espanha o faz no século XV, quando os Reis Católicos depõem o governante de Granada, o último reduto ainda muçulmano. Nesses encontros e desencontros, diversas zonas de troca cultural se estabeleceram, produzindo mais algumas reescritas do Tetrabiblos. Além do árabe para o latim, nesse período traduziu-se também direto do grego para o latim e, do século XV, como já contei na postagem sobre as minhas “peripécias”, ainda resta um manuscrito em castelhano na Biblioteca Nacional de Madri. Quem quiser ver a minha palestra sobre esse assunto (apresentada no Simpósio do SINARJ de 2007), ela foi filmada pelo Alexey Dodsworth e está no Youtube, dividida em cinco partes:



No percurso da minha pesquisa, alguns bons imprevistos têm ocorrido, como a guinada dos meus interesses para as questões da Expansão Marítima, o que acabou me rendendo um estágio de seis meses em Lisboa, como já relatei nas “peripécias”, e uma série de novos projetos de pesquisa. Outro bom imprevisto tem sido o trabalho de estudo e tradução (do grego para o português) dos primeiros três capítulos do Tetrabiblos, que tem sido levado a cabo pelo Marcus Reis e por mim, a passos lentos, mas firme e forte, há quase dois anos. Isso também nos tem motivado a fazer outros trabalhos juntos, tendo em vista nosso interesse comum pelo período helenístico.

Este é o Marcus, fotografado pelo Edil Carvalho, alguns dias antes de eu embarcar para Lisboa.

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