quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Astrolomia e tradução na expansão marítima

por Cristina de Amorim Machado

Na semana que vem vou para Ouro Preto apresentar um trabalho no Encontro de Tradutores que vai rolar na Universidade Federal de Ouro Preto. Quem quiser saber mais sobre o evento, o site é http://www.nastrilhasdatraducao.ufop.br/.

Minha comunicação será sobre alguns personagens da expansão marítima que, além de astrôlomos, eram também tradutores. O título do artigo é "A tradução de textos científicos no período da expansão marítima, uma história em construção". Compartilho agora com vocês um pouco da apresentação que acabei de preparar.

A hipótese desse trabalho é que a tradução teve um papel de destaque na expansão marítima, sobretudo na transmissão da literatura científica. Para corroborar essa hipótese, veremos alguns personagens da expansão marítima que também eram tradutores. Vale lembrar que o conceito de tradução em jogo nesse contexto é bem mais amplo do que o que estamos acostumados, incluindo não só a tradução stricto sensu, mas também outros tipos de reescritas.

As principais áreas traduzidas eram a geografia e a astrolomia, tendo em vista a demanda por esses saberes que instrumentalizavam a empreitada expansionista.

Já falei em outras postagens por que estou usando os termos "astrolomia" e derivados, mas não custa nada repetir mais uma vez que estou propondo esse termo para significar o amálgama entre astronomia e astrologia que havia desde a antiguidade até o advento da ciência moderna. Resumidamente, alguns dados sobre os nossos personagens:

1) o astrôlomo salmantino Abraão Zacuto, que preparou em hebraico o reconhecido Almanaque perpétuo, cujas tabelas de posições planetárias, em suas versões latina e castelhana, feitas pelo também astrôlomo José Vizinho, informaram Vasco da Gama e várias gerações de navegadores e astrôlomos portugueses;

2) o astrôlomo João Faras, primeiro a descrever a constelação do Cruzeiro do Sul, que, além de ser o responsável por um dos únicos três documentos que testemunham o achamento do Brasil, também traduziu do latim para o castelhano a obra De situ orbis, de Pompônio Mela (século I), na qual Duarte Pacheco Pereira se baseou para escrever o Esmeraldo de situ orbis, onde encontrei pela primeira vez o termo “astrolomia”;

3) o matemático e cosmógrafo Pedro Nunes, que, além de uma vasta obra de sua própria autoria, traduziu para o português alguns textos importantíssimos na época, como o Tratado da esfera, de Sacrobosco (século XIII) e a primeira parte da Geografia, de Ptolomeu (século II); e

4) André do Avelar, sucessor de Pedro Nunes na Cátedra de Matemática da Universidade de Coimbra, que escreveu o Reportório dos tempos, considerado por alguns como tradução de um repertório espanhol anterior, escrito por Jerônimo de Chaves.

De Salamanca a Lisboa e Coimbra, esses notórios astrôlomos da história da ciência no período da expansão marítima inscrevem-se definitivamente na história da tradução.

Reservado 359 da Biblioteca Pública de Évora
Reportorio dos tempos, André do Avelar

Zacuto, Vasco da Gama e D. João II

Capa do Tratado da esfera, de Sacrobosco, traduzido em português

A geografia de Ptolomeu
A astrolomia de Ptolomeu

Pedro Nunes, o primeiro cosmógrafo-mor de Portugal

Dizem que este é o Mestre José Vizinho, tradutor do Almanaque perpétuo

Abraão Zacuto, o astrôlomo salmantino

Tradução castelhana de Mestre João Faras da obra De situ orbis, de Pompônio Mela, anotada em português pelo próprio punho de Duarte Pacheco Pereira (manuscrito da Biblioteca da Ajuda)

Painel de azulejos lisboeta representando o Cruzeiro do Sul

Última página do Almanaque perpétuo, onde constam os nomes de Zacuto e Vizinho

Duarte Pacheco Pereira, o Aquiles Lusitano

2 comentários:

Anônimo disse...

muito interessante sua apresentação!Beijos e sucesso!

odete disse...

Muito interessante suas descobertas!Sucesso na sua apresentação em Ouro Preto!